quarta-feira, 19 de abril de 2017

CAETANO JOSÉ MUNHOZ *

CAETANO JOSÉ MUNHOZ
3.3- CJM: nascimento e infância em Paranaguá


  CJM vem ao mundo, como se viu, no seio de uma família de posses. Alcides Munhoz informa que ele nasceu em Paranaguá a 17 de junho de 1817, e que ali “educou-se e viveu até a sua maioridade. Moço, mudou-se para Curitiba, onde iniciou a vida no comércio exportador de erva-mate” (1).  

Sobre a infância e adolescência de CJM em Paranaguá, onde viviam seus pais, não obtive nenhuma informação. Sua educação pode ter sido ministrada por algum professor particular contratado para tanto, ou por um professor mantido pelo governo do Império. 

Segundo Vieira dos Santos (2), quando CJM nasceu, a cadeira de professor de primeiras letras de Paranaguá estava vaga, o que ocorreu no período 1815-19. Como sua remuneração fora rebaixada de 120 para 80 mil réis anuais (3), não havia interessados em ocupá-la. Em 1820 a Câmara de Paranaguá fez uma representação ao rei D.João VI pedindo uma solução para o problema.  

Só em 1826 a Câmara, autorizada pelo presidente da Província de S.Paulo, abrirá concurso para o preenchimento daquela cadeira, com a remuneração de 120 mil réis. Apresentou-se então Hildebrando Gregoriano da Cunha Gamito que, submetido a uma banca de examinadores, foi aprovado e tomou posse no cargo em 27 de maio de 1827. Gamito exercerá tais funções até falecer, em 1849.  Considerando que CJM tinha então 9 anos (completaria 10 em 17 de junho de 1827), ele pode ter sido aluno do professor Gamito. Antes disso, como estava vago esse cargo de professor público, a alternativa que restava aos pais interessados em que seus filhos recebessem a educação primária (“aprender a ler, escrever e contar”) seria recorrer a professores particulares. Vieira de Sousa refere-se neste caso ao prof. Francisco Félix da Silva, que abriu suas aulas particulares em decorrência daquela vacância. Assim, CJM pode ter sido também aluno dele. Outra possibilidade para os pais seria contratar Lourenço Antônio de Almeida, que exercia, no período, as funções de professor de gramática latina (ele lecionou em Paranaguá de 1823 a 1828 ou 1829). A propósito, o professor Lourenço integrou a banca que examinou Hildebrando Gamito antes referida.

Com CJM pode ter acontecido o mesmo que com o jovem Agostinho Ermelino de Leão, futuro desembargador, embora este tenha nascido mais tarde, em Paranaguá, no ano de 1834. Segundo seu filho, ele aí “cursou aulas de primeiras letras na escola do mestre Felix” (4).

Em 1831 a Câmara informava ao presidente da Província de S.Paulo a sutuação do ensino em Paranaguá: a escola pública do professor Hildebrando G.C. Gamito tinha 53 alunos e a escola particular do tenente Francisco Félix da Silva, 48.

A educação da época reconhecia a validade de castigos físicos, o que seria aceito inclusive pela legislação, posteriormente. Vieira dos Santos cita a lei provincial nº 35, de 18 de março de 1836, que afirma em seu parágrafo único: “Os professores de primeiras letras poderão castigar moderadamente os seus discípulos quando as penas morais forem ineficazes.”   
              
  Seguramente CJM recebeu educação religiosa e fez a 1ª. Comunhão, considerando o costume da época e o fato de seus pais serem católicos. Aliás, a religião católica, no tempo do Império, não era separada do Estado. Assim, o ensino oficial necessariamente implicava ensino religioso. Por outro lado, muitos dos que estudavam com o professor de gramática latina encaminhavam-se para a carreira eclesiástica. Mas esse não foi o caso de CJM que desde cedo voltou-se   para a vida prática, pois seu nome está associado à instalação de um dos primeiros engenhos de erva-mate em Curitiba, em 1834, quando tinha apenas 17 anos.

Conforme carta de CJM, transcrita em “Folhas Cadentes” (5), ele desejava muito que seu filho Alfredo, então estudante em Petrópolis, se tornasse “Doutor em Leis”, talvez uma compensação por não ter ele próprio se formado em Direito, embora viesse a exercer aqui, por muitos anos, a função de “juiz municipal substituto”, o que era possível pela legislação da época.

Vale lembrar que a primeira faculdade de Direito instituída no Brasil foi a de S.Paulo, em 1827. No ano seguinte, fundou-se a de Olinda/Recife (6).   

A julgar pelo tratamento que lhe era dado, com o seu nome no diminutivo (“Coronel Caetaninho”), CJM devia ser de estatura baixa e compleição franzina. Encontrei dois retratos dele em minha pesquisa. Um, o que consta em “130 Anos de Vida Parlamentar Paranaense”, de Maria Nicolas. Outro, mais velho, foi publicado na “Revista Paulista de Indústria” v. 3, nº 17, de 1953 (edição especial: “O Paraná e suas Indústrias”), ano em que se comemorou o centenário do Paraná  e seu bisneto era o governador do Estado. Infelizmente, nenhuma das duas publicações informam como foram obtidos esses retratos de CJM.

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