quarta-feira, 29 de junho de 2016

ALBERTO GOMES VEIGA

Alberto Gomes Veiga, nasceu em Paranaguá a 3 de Fevereiro de 1858. Foram  seus  pais  Miguel  José  Gomes  Veiga,  portugues,  e  dona  Arminda  Amalia  Moreira  Veiga, natural desta cidade. Sua  infoncia  transcorreu  dentro  do  ambiente  que  emoldura  os  lares  bem  formados  e,  por  certo, envolvida pelos folguedos e traquinices naturais de uma infancia vivida nesta longínqua Paranaguá de  ha  cem  anos,  calma,  bucólica,  com  seus  magníficos  arvoredos,  seus  amenos  e  sombrios caminhos, suas pacatas e tortuosas ruas. Fêz seus estudos primários na escola do saudoso professor Honorio Décio da Costa Lobo, onde, no dia 15 de Janeiro de 1869, após exames realisados perante banca examinadora compósta do citado professor  e  do  inesquecível  professor  José  Cleto  da  Silva  e  presidida  pelo  sub-inspetor  escolar Ignácio José Caetano da Silva, e nos quais foi aprovado com nota plenamente, recebeu certificado de conclusão de curso primario.Por essa altura e terminando aí o currículo escolar que, na época, se poderia oferecer a um jovem em Paranaguá,  iniciou-se,  menino  ainda,  na  vida  comercial.  Podemos  dize-lo,  que  fêz  toda  a  sua adolescencia e juventude atrás do balcão do estabelecimento comercial de seu pai, onde, de inicio aos onze anos, o seu tamanho não utrapassaria por certo a altura do balcão.  A 30 de Junho de 1881, já então com 23 anos, com o espirito amadurecido na disciplina férrea dos estabelecimentos  comerciais  da  época,  mas  com  o  coração  ainda  bem  jovem  e  voltado  para  os encantos da mocidade, perde o seu pai.  E agora, sob o impacto de uma situação definitiva, compreende bem a sua condição de primogenito, com apenas vinte e poucos anos, responsável daí em deante por uma família compósta de mãe e oito irmãos menores.Assume a tutela de seus irmãos e para poder levar a frente a educação dos mesmos e restaurar o nome de seu velho pai, não tem medo de jogar-se á empreitada com toda a força do seu idealismo, do seu carater e do seu coração, nem que para tanto necessario fôsse hipotecar seus bens. Mas, idealista, acreditando na força do futuro e vendo bem longe, mas segura, a grandeza futura da sua terra, hipotéca não só seus bens presentes, mos também os futuros, em documento assinado em 19 de Agosto de 1882, e que pela originalidade trancrevemos: "Extracto para inscripção do Hypotheca legal que faz Alberto Gomes Veiga, de seus bens prezentes e fucturos, na forma da Art. 213 da Lei Hypothecaria. § 1.°) Nome do responsavel: ALBERTO GOMES VEIGA. § 2.°) Seo domicilio: Paranaguá. § 3.°) Sua profissão: negociante. § 4.°) Nomes dos orphãos: Minelvina, Carmen, Silfredo, Randolpho, Weimar, Manoel, Maria e José. § 5.°) Seos domicilios: Paranaguá. § 6.°) Sua filiação: Filhos de Miguel José Gomes Veiga (falecido) e Arminda Moreira Veiga. § 7.°) A razão do responsabilidade: Por ser tutor dativo. § 8.°) Data da responsabilidade: 30 de Junho de 1881. Assim Hypoteca seus bens prezentes e fucturos para garantir os legitimos de seus tutelados.  Assinado sobre uma estampilha do Imperio, de 200 réis.  Paranaguá, 19 de Agosto de 1882. ALBERTO GOMES  VEIGA  Hoje tal atitude seria uma temeridade, por certo o seria maior ainda em 1882.  Porém a certeza da vitoria, certeza que lhe era garantida pela nobreza do compromisso moral para com  os  seus  e  pelo  acrisólado  sentimento  de  honra  que impunha  as  suas  decisões  comerciais, fizéram-no não vacilar diante ao aparente fantasma da hipotéca.  Isto  porque,  como  já  se  vai  observando,  no  instante  exato  em  que  morria  seu  pai,  a  situação comercial  da  firma  da  qual  era  titular,  não  era  nada  lisongeira.  O  ultimo  balanço  apresentara  um passivo superior ao ativo e os credores eram em grande número.Tanto  que,  na  ocasião  da  abertura  do  seu  inventario,  quando  se  procurava  arrecadar  bens  para partilhar, os credores nele se habilitaram. E verificou-se então que, dentre esses, aparecia um jovem empregado do balcão da firma que era o próprio Alberto Gomes Veiga com um credito de 4.060$000 (quatro contos e sessenta mil réis), referente a ordenados atrazados e não recebidos.Liquidada a firma do seu pai, em cujo inventario lhe coube apenas partes nos sobrados 19  e 21 da Rua General Carneiro, 540$500 em dinheiro e um escravo de nome Ezequiel que fora avaliado em 117$800, inicia ele uma nova vida. Bem pequeno capital para quem tinha responsabilidades tão grandes.  Agora, sob a razão individual do seu nome, continua com o mesmo ramo de negocio, no mesmo logar e na mesma casa a honrar a tradição do seu querido e honrado progenitor.  Inspirando  aos  credores  do  seu  poe  aquela  confiança  que  só  os  homens  de  bem  e  que  têm  uma determinação nobre são capazes de o fazer, e encontrando em seu dileto amigo Afonso de Camargo Penteado  um  sustentaculo  para  a  batalha  que  surgia,  isto  porque  na  ocasião  este  lhe  fez emprestimos em dinheiro, inicia a verdadeira jornada de sua existencia.  E começa a lutar. O organismo comercial embora combalido ainda tem forças para reagir. Esperava apenas um sangue novo que lhe imprimisse novos rumos e que lhe désse novos destinos.Passam-se alguns anos, saldam-se os credores, liquida- se a conta do seu velho amigo. Mas então o jovem Alberto em 1896 está com 38 anos de idade.Verifica que teve toda a sua mocidade dedicada aos seus, ao seu negocio e á restauração comercial de uma firma que já contava então com mais de cinquenta anos. Nesse  momento,  resolveu  pensar  um  pouco  em  si  mesmo  e,  destarte,  na  cidade  de  Montevideo, contrai  matrimonio  a  4  de  junho  desse  ano,  com  a  Snra.  Dolores  Varese,  doma  de  grandes predicados morais e pertencente á destacada família daquela cidade.  Começava assim, com seu casamento, a construir a sua propria vida, iniciava a gosar dos encantos maviosos  que  o  lar  que  formamos  a  nós  proprio  oferece.  Consolida  então  um  grande  património constituído  de  onze  filhos:  Silfredo,  Luiz,  Maria  Estér,  Elviro,  Alberto  (falecido  em  S.  Paulo),  Alba (falecida em Curitiba), Raul, Laura, Rosina, Maria Helena e Amalia, que hoje continuam em nossos dias a honrar e dignificar o respeitavel nome que trouxeram do berço.Com uma visão magnifica do futuro e uma rigidez incontestavel na execução dos atos comerciais, faz com que sua firma progrida. Saía do caos em que se iniciou, levanta-se da situação difícil em que se encontrava e alcança os pinaculos da solidez.  Ora associado. a seus irmãos Randolpho e  Henrique,  ora  formando  sociedade  com  Herculano Alves da Rocha e, por último, em 1917,criando nova razão social, agora com seus filhos Silfredo e Luiz, formados também na ardua escola do trabalho e dotados da pratica natural que a luta pela vida a todos determina, fez com que a firma Alberto Veiga & Cia. subisse pelos contrafortes do sucésso até atingir os paramos da vitoria.  Ainda  temos  lembrança  do  velho  casarão  da  rua  15,  de  portas  altas,  cinzento  escuro,  verdadeira fornalha de trabalho, fôrma de homens dignos, situado onde hoje se encontra o novo salão crediario da firma.  No entretanto, era preciso evoluir porque a organização expandia-se cada vêz mais e então veiu-lhe a visão do magnifico predio da rua 15.Em Junho de 1928, já setuagenario, adquire por quarenta contos de réis o velho predio da esquina contiguo á sua casa.  E sonha ainda com um grande estabelecimento.  Do sonho passa á realidade, da demolição da velha casa para a execução da nova obra.  E em Dezembro de 1930 inaugura solenemente a nova lója onde hoje se situa. Quanta  confiança  no futuro  da  sua  terra,  para  que,  nos  idos  de  1928  a  1930,  quando  o  Brasil  se debatia  numa  dos  mais  graves  crises  financeiras  do  sua  história,  crise  que  teve  aliás  a  sua repercussão até aos nossos pagos, pensasse ele em erguer aquele austéro predio.  Era  preciso  coragem  e sobretudo  era  necessário  crer  na  capacidade  de  sua  gente  e  nos  dias  de Paranaguá de hoje, para que, em 1929, erguesse esse monumento de granito e ferro da rua 15.  Logo  após  ter  usufruido  a  satisfação  de  ver  concretisado  um  velho  sonho  e  um  ideal  antigo,  é acometido de grave enfermidade que o obriga em Outubro de 1930 a retirar-se da firma, passando o seu capital para a nova sócia sua Exma. esposa Dona Dolores Varese Veiga.  Em  13  de  Novembro  de  1931,  com  setenta  e  três  anos,  vem  a  falecer,  cercado  do  carinho,  do respeito e da admiração de sua esposa, de seus filhos, de seus amigos, de seus empregados e de seus admiradores.  Temos ainda bem viva em nossa rotina a recordacão de um lutador, trajando roupa escura e trazendo a  cabeça  coberta  com  um  bonézinho  preto,  sentado  em  uma  cadeira  de  rodas  porque  insidiosa moléstia  o  obrigara  a  amputar  uma  das  pernas,  com  as  vistas  como  que  voltadas  para  o  Infinito contemplando o eufórico e convicto da vitória que alcançara, o bulício que sua nova casa despertava no gente de sua terra.  Ao lado de sua intensa atividade comercial, atividade que fê-lo transformar-se em vanguardeiro do comercio  de  Paranaguá,  dedicou-se  também  em  certo  periodo  de  sua  existencia  á  atividades políticas.  Filiado ao velho Partido Republicano foi eleito camarista, hoje vereador, no ano de 1908, cargo do qual tomou pósse a 21 de Setembro desse ano.  Em  1912  reeleito  para  o  mesmo  cargo,  foi  também,  nessa  oportunidade,  eleito  por  seus  pares Presidente  da  Câmara.  Nesse  cargo  permaneceu  até  7  de  Dezembro  de  1914  data  em  que  se exonerou.  Cidadão afeito intimamente á atividades comerciais e espiritualmente por índole e por necessidade preparado para a rigidez do mundo, do comercio, nunca pode amoldarse aos entreveros da política, jamais pode acomodar-se aos impactos que a politica muitas vêzes determina em nossos espiritos, fazendo-os  retroceder,  tergiversar,  para  alcançar  mais  adiante  o  caminho  primitivo.  Por  isso,  da politica afastou-se definitivamente em 1914.  Eviden- temente só quem nasceu com vocações políticas pode suportar os desenganos, as desilusões e os desesperos que, muitas vêzes, o político é obrigado a sofre-los para que assim possa atingir o obietivo visado.  O Coronel Alberto Gomes Veiga, pela sua formação, pelo muito que dele exigiram os seus no instante em  que  praticamente  surgia  para  a  vida,  não  poderia  mesmo  se  empolgar  com  os  sucéssos  da politica.  Sua  trabalhosa  vida,  pois,  foi  sempre  cheia  de  exemplos  magnificos  da  dedicação  ao trabalho,  de  honestidade  intransigente  aos  compromissos  assumidos,  de  firmesa  de  carater  do homem  probo,  dedicado  inteiramente  aos  seus  e  empolgado  pelas  vibrações  apaixonantes  dos episodios comerciais.  E  no  instante  em  que  Paranaguá  comemora  o  centenario  do  seu  nascimento,  justo  é  que reverenciemos o seu nome prestando-lhe a homenagem que de nós exigem todos aqueles que, por qualquer  circunstancia,  no  sociedade,  na  politica,  no  comercio,  na  Igreja,  no  função  pública,  nas funções liberais, tudo fizeram para elevar o nosso passado, legando ás gerações presentes exemplos de dignidade, de honra e de amor a nossa gente, á nossa Terra e ás nossas mais caras tradições. ALBERTO GOMES VEIGA  -Nasceu em  3-2-1858 e  Faleceu em  13-11-1931 


 Texto Na íntegra do DR. JOAQUIM TRAMUJAS

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