IGREJA DE NOSSA SENHORA DO
ROSÁRIO DE PARANAGUÁ
O mais antigo marco da civilização
do sul do Brasil - 1578
Histórico O topônimo Paranaguá
deriva dos vocábulos indígenas Paraná = grande rio e goá = redondo, evidente
alusão à baía que embeleza e enriquece o Município. As terras em que ele se
localiza, por ocasião da primeira divisão administrativa do Brasil, pertenciam
a Pero Lopes de Souza, Donatário da Capitania de Santo Amaro. A colonização
originou-se da imigração de habitantes de São Vicente e de Cananéia que, entre
1550 e 1560, se estabeleceram na ilha da Cotinga, receosos de ataques por parte
dos carijós. que dominavam o continente. Formou-se um arraial, progressivamente
desmembrado no período 1575-80, pelo estabelecimento da população em terra
firme, às margens do então rio Tagaré ou Taquaré, atual Itiberê. Em 1578,
construiu-se a primeira igreja, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário (há
quem afirme datar de 1560-65 essa construção). A primeira leva de colonizadores
sucederam-se outras, que se estenderam por todo o recôncavo, após terem entrado
em contato pacífico com os silvícolas. A descoberta de minas de ouro na serra
Negra contribuiu para o aumento da população, admitindo-se mesmo que dessas
minas tenham saído, em 1580, as primeiras amostras de ouro brasileiro para a
Corte Portuguesa. Embora seja esta a versão corrente, há quem deduza ter sido
povoada essa parte do território brasileiro em época anterior ao Descobrimento,
com base na afirmativa do historiador Roberto Southey referente ao naufrágio de
Hans Staden. Segundo ele, Staden teria encontrado portugueses e castelhanos
residindo e cultivando terras na costa de Superagui, em 1548 (ou em 1549,
segundo outros). Quando da concessão de sesmarias, uma delas coube a Diogo
Unhate, que a requereu em 1614, como recompensa por sua atuação, 29 anos antes,
no combate aos carijós. Essa sesmaria ficava no Superagui. O afluxo de
habitantes das vilas do Norte, atraídos pela mineração, atingiu seu máximo em
1640, quando chegou o bandeirante Gabriel de Lara, investido do governo militar
do povoado. Tinha ele a atribuição de defender o território que, para a
Metrópole, constituía posição de suma importância política e estratégica, pois
se tratava de firmar o domínio português, contestado pela Espanha. Em 1646,
antecipando-se as ordens da Metrópole, erigiu o pelourinho -símbolo da
autoridade e da justiça D'E1 Rei. Dois anos depois, a povoação tornava-se vila.
As eleições que então se verificaram foram as primeiras em todo o território
que atualmente compreende o Estado do Paraná. A vila recém-instalada tornou-se,
no período colontal, ponto de irradiação de povoamento e de organização de
bandeiras. Segundo outros historiadores, desde 1640, o Governador Duarte
Correia Vasqueanes, havia ordenado, do Rio de Janeiro, a ereção do pelourinho
em Paranaguá, o que fora feito a 6 de janeiro, e assim reconhecida a
necessidade de organização da justiça e da administração pública no arraial, até
então sob a chefia discricionária dos prepostos reais junto ao serviço das
minas auríferas. Uma Ata de vereança de 1654, em que figuram as assinaturas de
Domingos Peneda e de João Gonçalves Peneda, e a existência de uma propriedade
no Imbocuí, conhecida como Sítio dos Peneda, confirma a tradição de estar
Domingos Peneda vinculado à fundação de Paranaguá. Sobre o fato, há referência
no códice n.° 13.981, documento inglês do século XVII, atualmente integrando o
acervo do Museu Britânico. Em 1711, a Coroa Portuguesa comprou dos herdeiros do
donatário Pero Lopes de Souza as terras que lhe pertenciam, criando a Capitania
de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, que teve período de grande evidência
na época. O progresso de Paranaguá deve-se, em parte, ao elemento estrangeiro:
da corrente imigratória alemã vinda em 1829 para o Rio Negro, alguns
colonizadores estabeleceram-se no litoral; entre os anos de 1871 e 1872, uma
grande leva de italianos localizou-se nas terras junto à serra da Prata, dando
origem a várias colônias, entre as quais estava o atual distrito de Alexandra,
em 1896, várias famílias polonesas foram localizadas na colônia Santa Cruz. No
movimento de que resultou a Proclamação da República, o Município se destacou
por intensa propaganda, principalmente através de seu Clube Republicano,
fundado em 1887, congregando os principais adeptos do novo regime, entre eles
Nestor Vitor, mais tarde um dos principais críticos do movimento simbolista
brasileiro. Já no período republicano (1902), inaugurou-se a iluminação
elétrica pública; em 1908, instalou-se o serviço de telefones e, seis anos
depois, o de abastecimento de água e a rede de esgotos. Em 1934, construíram-se
as docas do porto de D. Pedro II, com 450 metros de cais acostável, passando
Paranaguá a figurar entre os principais portos brasileiros.
OURO Encontrar ouro nas terras do
Brasil foi o grande sonho acalentado pelos portugueses desde os primeiros dias
do descobrimento. Entre as regiões onde primeiro apareceram notícias de minas
auríferas, e que mais esperanças despertaram de grandes êxitos, figurou
Paranaguá. Terminado o ciclo de caça ao índio, continuaram os paulistas, agora
estimulados pelo rei de Portugal, a penetrar os sertões em busca do ouro. A
maioria dos bandeirantes rumava para o interior, para o norte, ou para o oeste,
mas alguns resolveram caminhar para o sul, junto ao litoral. Ultrapassando um
braço da Serra do Mar que se projeta até o litoral (a Serra de Taquari),
acompanhando a costa por mais de 35 quilômetros, chegaram a um local onde o
mar, avançando quase 50 quilômetros para o interior, interrompe o continente. A
entrada da baía é marcada ao norte pela ponta Inácio Dias, ao sul pelo pontal
do Sul e bloqueada pela presença de duas grandes ilhas – das Peças e do Mel.
Passando por um dos canais que separam as pontas e a as ilhas, encontram-se no
interior duas baías distintas. Uma, no sentido norte, é a das Laranjeiras, foz
dos rios Serra Negra e Tagaçaba. À outra, na direção oeste, recebendo inúmeros
riachos e com um bom porto natural, chamaram Paranaguá. Na lama dos ribeirões
que corriam para a baía de Paranaguá, os paulistas encontraram o ouro que tanto
procuravam. A notícia se espalhou, gente de São Vicente e do Rio de Janeiro
veio tentar a sorte. No porto, à entrada da baía, nasceu uma vila: Paranaguá;
no fundo, mais uma: Antonina. E mais para o interior, seguindo os ribeirões,
uma terceira: Morretes. A descoberta do ouro nos ribeirões que deságuam na baía
de Paranaguá trouxe gente e mais gente: de Santos, São Vicente, Cananéia, São Paulo
e até do Rio de Janeiro. No começo os contingentes se fixaram na ilha de
Cotinga, temerosos dos índios carijós. Aos poucos, mudaram-se para o
continente, fundando Paranaguá, o primeiro núcleo populacional paranaense
organizado pelos portugueses. A partir dele, inicia-se a ocupação das áreas
próximas, tendo sempre o ouro como motivação. Paranaguá ganhará forma política
e jurídica em 1646-1648, com a instalação do pelourinho e a organização de
eleições para definir as autoridades da vila. As minas do litoral ficavam a
oeste e ao norte da baía de Paranaguá. Os mineradores exploravam o cascalho dos
rios usando a bateia. As minas mais famosas do litoral foram a do Pantanal, a
Panajóias, Limoeiro, Marumbi, Serra Negra, entre outras. Mais gente foi
chegando e subiu os rios que deságuam na baía de Paranaguá. Passaram a Serra do
Mar para faiscar no Planalto ainda no século XVII. Em 1655 a Câmara de
Paranaguá solicita ao governador do Rio de Janeiro a instalação de uma oficina
de fundição na vila. Argumenta que a viagem com o ouro até Iguape para separar
o quinto era perigosa. A reivindicação foi atendida e a casa de fundição passou
a transformar em barras todo o ouro encontrado nos garimpos, colocando o
carimbo real e cobrando o quinto. A circulação de ouro em pó ou em pepitas era
proibida. As barras eram remetidas à Casa da Moeda do Rio de Janeiro,
transformadas em moedas e enviadas a Portugal.
O sociólogo Octávio Ianni sustenta que a Comarca de Curitiba foi
originalmente povoada por europeus chegados diretamente de Portugal a
Paranaguá, provavelmente atraídos pelas minas de ouro da região, e que, em
seguida, atravessaram a Serra do Mar com esse objetivo. Duas eram as rotas mais
usadas para alcançar o planalto; pelo rio Nhundiaquara; e pelo vale do Ribeira,
que nasce no segundo planalto paranaense, atravessa a Serra do Mar e deságua no
litoral paulista. Estabelece-se um caminho até São Paulo, direto, sem cruzar a
serra ou chegar ao litoral. As veredas abertas na travessia da Serra do Mar vão
originar os primeiros caminhos que ligaram o litoral com o planalto, como o da
Graciosa, Itupava e do Arraial. No Planalto a exploração atingiu grandes
proporções. Garimpava-se na região de Curitiba, Assungui, Tibagi. As minas do
Arraial Grande deram origem à cidade de São José dos Pinhais. Paranaguá
destacou-se tanto a ponto de lhe conferirem, em 1660, o título e as
responsabilidades de Capitania._ Assim permanecerá por meio século. O ano de
1725 assinala a separação das ouvidorias de São Paulo e Paranaguá. Todo o sul
fica subordinado a Paranaguá, alongando-se os territórios até ao Rio Grande, ao
Rio da Prata, inclusive o Uruguai. Passa-se mais de meio século e Paranaguá
continua o mais importante porto situado logo acima das conquistas espanholas.
A vila recebe as atenções e melhorias que lhe cabem como baluarte que se
destinava a ser diante das ameaças espanholas após a anulação do Tratado de
Madri. O ouro, entretanto, achou-se e se foi. Entre as providências diante da
ameaça espanhola, figurou a construção de uma fortaleza. As obras começaram em
1767. Para diminuir as despesas da Real fazenda, o governador de São Paulo
pediu que a Vila de Paranaguá auxiliasse como fosse possível. Os vereadores
convocados para tomar conhecimento da solicitação revelaram que Paranaguá
atravessava por essa época uma fase de extrema decadência econômica e social,
pois deliberou: “Que atendendo ao miserável estado da terra, a seus moradores
não lhes convinha contribuir com coisa alguma para a obra, pois que por
limitada que fosse [a contribuição] a julgavam violenta [...] e distinguindo a
qualidade dos seus moradores, se achariam só sessenta ou setenta com algum
tratamento, sendo tudo o mais gente de pé descalço [...] que o ouro que
produzia a comarca, compreendidas as vilas de Iguape, Paranaguá, Rio de São
Francisco e Curitiba, não excedia, um ano por outro, pelo manifesto da
Intendência, a cem libras pouco mais ou menos”. [Inserir mapa com a localização
das minas de ouro, com as vias de penetração dos faiscadores e o local das
minas principais] Do ponto de vista do colonizador, a mineração do ouro foi o
primeiro ciclo econômico do Paraná e deixou aspectos positivos para o
desenvolvimento da região. Possibilitou o povoamento do litoral, a fundação de
Paranaguá, o desbravamento e colonização do primeiro planalto, então
desconhecido, a fundação de Curitiba, a abertura e/ou consolidação de caminhos
que uniram o planalto curitibano ao litoral vencendo a Serra do Mar. Esses
caminhos constituiriam as vias de comunicação vitais para o desenvolvimento
regional. Ébano Pereira e Gabriel de Lara
O primeiro chefe de exploração que aparece na história do Paraná como
fundador de diversas povoações, entre elas Paranaguá, é Theodoro ou Eleodoro
Ébano Pereira. Não se sabe a data exata de sua chegada a Paranaguá. Estima-se
que tenha sido em princípios do séc. XVII. Por volta de 1650 já havia famílias
no local onde se lançaram os fundamentos da primeira povoação formada em
território do atual estado do Paraná. Ébano Pereira já estava em Paranaguá
antes de 4 de março de 1649, data em que comunicou à Câmara, instituída nesse
ano, sua qualidade oficial de Administrador das Minas. “A única autoridade
derivante do Governo-Geral do Rio de Janeiro com jurisdição nesse distrito do
sul era a dele próprio”, conforma Romário Martins. Ébano Pereira ficou pouco na
povoação da qual foi um dos fundadores, à margem esquerda do Itiberé, numa bela
planície, de acordo com Rocha Pombo. Ao
que tudo indica, o primeiro capitão-mor de Paranaguá foi Gabriel de Lara. Ele
exerceu muitos cargos na antiga comarca de Paranaguá: por volta de 1640 era
Capitão-mor, e em 1669 ainda era Ouvidor da comarca. Foi sob Gabriel de Lara
que se levantou o pelourinho, tanto em Paranaguá (1646) como em Curitiba
(1658). Gabriel de Lara não foi o primeiro a se estabelecer em Paranaguá.
Quando chegou à povoação, já encontrou muitos pioneiros de seu povoamento. Em
maio de 1632, Gabriel de Lara residia na vila de Iguape e antes de 1646 em
Paranaguá, onde se dedicava a descobrir jazidas de ouro. Em 1646, estava em São
Paulo anunciando descobrimentos de ouro no distrito que estava povoando. A
história de Paranaguá, à luz de documentos, começa com a ação de Gabriel de
Lara: o seu povoamento, o descobrimento de ouro, a organização social, a sua
fundação política e administrativa. Lara é o capitão-mor, o ouvidor, o alcaide,
o lugar-tenente do donatário (Marquês de Cascais), o governador da Capitania em
nome de El-rei. A partir de 1640 e até 1682, quando faleceu, Gabriel de Lara
ocupou todos os postos do poder público na terra que encontrou como núcleo
indeciso de aventureiros. Por isso é celebrado pela história oficial como o
homem que soube conduzir e desenvolver o povoado, tornando-o o mais importante
centro de civilização em seu tempo de todos os confins meridionais da Colônia,
depois de São Vicente.
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