Com a homenagem de hoje a o ilustre paranaense General Alberto Ferreira
de Abreu, no transcurso do 1º. centenário do seu nascimento, anos só imaginação
nos transporta a Paranaguá de 1853. A cidade da margem do Itiberê, a maior e
mais antiga da 5ª. Comarca, tinha suas prerrogativas de centro político e
social marcado por tradições aí deixadas pela gente que povoou a antiga
capitania dando foros de terra civilizada a essas paragens residenciais de
capitães móres. Não só por isso. A gente da embocadura do antigo Taquaré
defendera os domínios de Portugal no novo continente e até barreiras ai se fizeram para impedir a
entrada de invasores Isso foi quase um século antes mas fazia somente três anos
que os sentimentos patrióticos dos paranaguenses os levaram à Fortaleza da
Barra para a resposta ao insulto de navio inglês que entrara na baía em
perseguição a embarcações nossas. De outra parte esperava-se a lei que havia de
criar a Província do Paraná e Paranaguá almejava para si os foros de capital.
As festas e as comemorações de caráter cívico tinham aí mais esplendor que
entre outras povoações da Comara. Era natural, pois, que Paranaguá se
orgulhasse do núcleo social que representava. As famílias importantes se iam
constituindo com dignidade para honrar o nome de ascendência, para ter lugar de
distinção a comunidade e para exemplo dos descendentes que haveriam de ligar,
pela inteligência e pelo trabalho, seus nome sao bem público pela grandeza da
Pátria. Na tradição dessas famílias vivia a esse tempo o casal Dr. Antônio
Cândido Ferreira de Abreu e Sra. Maria Cândida Guimarães Ferreira de Abreu.
Ela, filha de Manoel Antônio Guimarães, o futuro Visconde de Nácar e de Da.
Maria Clara Correia Guimarães. Êle, filho do Sargento mór José Matias Ferreira
de Abreu e de Da. Maria da Anunciação Silva Castro, de estirpes paulistas. O
Dr. Antônio Ferreira de Abreu não se havia de alheiar à vida política
paranaense. Bacharel em Direito, exerceu a magistratura. Foi o primeiro
deputado à Assembléia Geral que representou a Província do Paraná. Teve assento
também na Assembléia provincial. Entre os seus filhos ilustres, lembramos hoje
Alberto Ferreira de Abreu, nascido a 11 de junho de 1853. O nosso espírito
paira ainda em Paranaguá desse tempo, a cidade marinha ciosa do seu valor como
expressão política a fazer nome para a futura província que se projetava criar.
E em Paranaguá não precisamos nos arredar da vida do jovem casal Ferreira de
Abreu em busca do significado desses sentimento. E' que, criada a Província do
Paraná teve a nova unidade como seu primeiro representante na Assembléia Geral,
o Dr. Antônio Cândido Ferreira de Abreu, como já referimos, o que mostra bem o
prestígio de que gozava no meio político da nova Província. Este prestígio
havia de decorrer da linha da conduta social daquele bacharel, que, vinculado a
distinta família paranaguense arcava então
com a responsabilidade de uma representação. Da sua conduta na Câmara de
Deputados e da sua argúcia estavam dependendo os primeiros problemas paranaense
cujas soluções deviam emanar do Governo Central. Tais preocupações teriam de
dar têmpera à personalidade de quem havia de conduzir bem a educação de uma
família de doze rebentos. Os seus descendentes estão na vida do Paraná. Alguns
com seus nomes rememorados pelos serviços já prestados, outros continuando a
engrandecer o Estado na política, nas profissões liberais, nos meios culturais,
na indústria e no comércio. Alberto Ferreira de Abreu foi o primogênito do
casal. A sua tendência se marcou para a vida militar. Com 18 anos incompletos,
1871, ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha. A 4 de dezembro de 1873
era graduado 2° tenente da arma de artilharia e a 25 de maio de 1878 recebia a
patente de 1° tenente classificado no Corpo do Estado Maior dela. classe. No
mesmo ano de 1878 concluiu o curso de engenheiro militar, bacharelando se em
matemáticas e ciências física Terminado o seu curso militar foi nomeado
ajudante de ordens do Comando das Armas da Província do Pará, tendo na mesma
Província prestado serviços militares vários, entre os quais, no presídio da
cidade de Macapá à margem do Amazonas. Em 1880 foi promovido a capitão e em
outubro do mesmo ano casou se na capital paraense com Da. Maria Lins Ferreira
de Abreu, filha do Major José Libânio de Lins e Souza. Deixando o norte do
país, foi nomeado diretor de obras militares em Santa Catarina, em 1882, tendo
prestado durante três anos serviços de engenharia militar nessa Província. De
1885 a 1888 exerceu as funções de diretor da Colônia Militar do Chopim tendo
feito incursões pelo sertão pois nesse período trabalhavam a serviço de demarcação
de fronteiras com a Argentina, comissões especializadas às quais prestou aquele
chefe auxílios técnicos. Ao deixar tais funções foi nomeado Diretor de Obras
Militares com sede em Curitiba, tendo sido aproveitados, pelo Governo
provincial, os seus serviços profissionais na engenharia, como Diretor de obras
públicas da Província. Promovido a major em 1890, outras funções de ordem
técnica militar lhe eram atribuídas. Eram já relevantes os serviços que vinha
prestando com dedicação nas várias funções militares. Isto lhe valeu a honrosa
promoção por merecimento ao posto de tenente coronel, em 1892, quando foi
nomeado diretor do Arsenal de Guerra da Bahia, cargo que exerceu durante apenas
cinco meses. Novamente havia de ser o seu estado natal campo de suas atividades, pois, deixando a Bahia, foi
nomeado Inspetor das colônias militares de Jataí, Chopim e Foz do Iguaçu. Isto
determinou que o ilustre militar realizasse demorada viagem na linha dessas
colônias, sugerindo, em posterior relatório, ao Ministério da Guerra, as
medidas que julgava necessárias no âmbito da segurança e vigilância das nossas
fronteiras. Terminada esta missão, foi nomeado comandante da Guarnição Militar,
em Curitiba. Tendo sido eleito, para o biênio 1894/1895, deputado estadual
deixou aquele comando militar para exercer o mandato. Mas, as consequências da
revolução federalista exigiram a sua ação de militar e êle foi, em 1894, o
organizador de forças que dariam continuidade às operações de marcha rumo ao
Paraná cuja capital estava sob o domínio revolucionário. Depois de se haver em
dissolvido tais forças, foi Ferreira de Abreu nomeado ajudante do pessoal da
Escola Superior de Guerra. Funções idênticas passou a exercer, em 1895, na
Escola da Praia Vermelha. Exonerado dessas funções foi nomeado auxiliar técnico
do Quartel Mestre General. Constituida, em 1896, a Comissão de Construção da
Estrada Estratégica de Porto da União a Palmas foi lhe atribuida a chefia da
mesma. Teria Ferreira de Abreu prestado, no setor de vias de comunicação serviços
ao nosso Estado, nessa oportunidade, não fora a falta absoluta de verba para a
realização desse empreendimento, de que resultou a extinção da referida
Comissão, em 1898, sem ao menos serem iniciados os trabalhos. Depois de exercer
oposto de ajudante do pessoal na Escola Militar do Realengo, é nomeado, em
1899, Delegado do Chefe do Estado Maior do Exército junto ao comando do
Distrito Militar de Pernambuco, onde
muito concorreu para a organização das forças da região. Era
1900 é nomeado Chefe do Arquivo
da Repartição do Estado Maior do Exército, em cujas funções alcança a patente
de Coronel e é designado para chefiar, em comissão, um Conselho de
Investigações na Colônia Militar de Foz do Iguaçu para onde viaja, percorrendo,
mais uma vez, o oeste do nosso território em difícil caminhada a cavalo,
disposto, como sempre, a cumprir o seu dever quando os seus serviços eram
solicitados pelo bem comum e para
engrandecer as instituições do exército.
O seu alto descortino na orientação de serviços militares o credenciou para
exercer as funções de Sub-intendente da Intendência Geral da Guerra e em
seguida as de Chefe do Departamento da Administração da Guerra. Promovido a
General de Briga da em fevereiro de 1910 foi nomeado Inspetor e Comandante da
10a. Região Militar que a esse tempo compreendia os Estados de São Paulo e
Goias, tendo sido logo mais transferido para a Região Militar que abrangia as
guarnições de Paraná e Santa Catarina.
Obteve finalmente em 1914, a sua promoção a general de divisão em cujo
posto encerrou a sua carreira militar, brilhante e cheia de serviços
apreciáveis ao Exército e à Pátria.
Atendera sempre com solicitude e patriotismo ao chamamento para a manutenção da
ordem e da unidade da Pátria. Assim foi
na reorganização de forças para o restabelecimento da ordem em nosso Estado e
consequente tranquilidade da família brasileira. Assim foi nas oportunidade sem
que por qualquer circunstância era exigida a sua ação ditada pelo bom senso e
pela noção exata das boas normas de proceder. Na vida civil, mais uma vez, o seu
Estado natal o havia de chamar para um posto de relevância. A linha reta da sua
vida no cumprimento do dever, a inteiressado seu caráter e o seu devotamento à causa
publica foram elementos basicos para leva-lo à deputação federal e assim representou
o Paraná no período legislativo 1914
-1917, tendo presidido na Câmara a Comissão de Marinha e Guerra. Encerrou,
assim, o ilustre paranaense a sua vida política e também a sua carreira
militar. Quase cinquenta anos de serviço militar, com a preocupação constante
de ser util e probo nas funções que
desempenhou. A especialidade de sua carreira o disciplinou no sentido da
objetividade na orientação dos trabalhos e das funções que lhe eram atribuídos.
Dirigindo obras, organizando serviços orientando planos administrativos,
coordenando forças na defesa das nossas instituições êle não somente cumpriu
com o dever militar mas demonstrou esse
sentimento que precisa possuir o homem no trato com a coisa de interesse geral:
o espírito público. Realizar sem exigir a recompensa certa pelo seu trabalho é
uma virtude que o homem vai adquirindo no curso da sua vida quanto mais produz
pelo bem comum como pensamento voltado aos altos desígnios da Nação. Trabalhar
compatriotismo é qualidade que merece o reconhecimento dos pósteros. O tempo é
a mais fria das sepulturas para uns; para os que passaram, pela vida sem um
destino na relação social que o homem deve ter em face da comunidade a que
pertence. Mas é o tempo para outros o calor que acentua traços da vida útil, vivida
na trajetória certa da dignidade humana. Nesta circunstância de estarmos
rememorando e exaltando a vida do General Alberto Ferreira de Abreu, em o dia
do centenário do seu nascimento, o
Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense pretende estimular uma
centelha desse calor para a consagração daquela figura de cidadão ilustre e
brioso militar que honrou o seu torrão natal e foi útil à Pátria. Alberto
Ferreira de Abreu morreu octogenário a 11 de fevereiro de 1934, com honras de marechal ato e tranquilo na sua consciência, de haver
cumprido, integralmente, o seu dever na sua vida militar, na sua vida política,
pautando as suas atitudes com espírito público pelo engrandecimento do Brasil.
(*)Discurso lido por ocasião do centenário de nascimento do
General Alberto Ferreira de Abreu, a 11 de junho de 1953, em sessão especial do
Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense. - Osvaldo Pilotto
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