BARÃO DO SERRO AZUL
Ildefonso Pereira Correia - nasceu aos 6 de agosto de 1845, em Paranaguá. Seu pai, Comendador Manoel
Francisco Correia Junior, o moço, estava no ostracismo, depois de haver sido a
pessoa de confiança do governo imperial,
naquela comarca. Depois de ter sido um dos privilegiados do poder, encontrava-se
agora no ostracismo, pois cometera a imprudência de imprimir um manifesto solicitando
a separação da Comarca de Curitiba da província de São Paulo. Tal gesto foi considerado
uma ameaça velada, imperdoável e que lhe acarretou a destruição de todos os
comandos. vitima do desagrado
governamental, foi humilhado e esquecido. ficou pobre. A chegada de mais um filho
confortava-o naquela hora de frustração e desespero. Seu nome homenageia o
padre que o batizou: Ildefonso Xavier Ferreira, uma das figuras mais notáveis
do clero, do magistério e da política paulista. Em 1857, Ildefonso viu morrer o
pai, que aprendera a admirar com quase fanatismo, e do qual gravou como uma
advertência profética, as palavras pessimistas, ditadas no leito de dor: Vivendo com honra deves fazer por seres
independente, visto que só o real serve se a maldade triunfa sempre das
melhores, mais generosas e desinteressadas ações. O pequeno
Ildefonso estava acostumado a ver seus tios e irmãos mais velhos alcançarem
vôos em busca de posições eminentes na administração dos negócios públicos ou
nas câmaras, não deixando de considerar, no entanto, as flutuações da política
que traziam sempre decepções e desditas. Admirava o jovem imperador, que lhe
parecia ter saído de um conto de fadas. Seu irmão mais velho, Manoel Francisco,
exercia cargos no Império, chegando a ocupar o Ministério do Exterior e se
eleger senador. Outro irmão, Francisco, foi nomeado para o governo da província
de Santa Catarina. Suas irmãs, Maria Bárbara e Francisca, casar-se-iam
respectivamente com Agostinho Ermelino de Leão e Antonio Alves de Araújo,
igualmente destinados a presidir e província do Paraná. E, Eufrozina, que se
casaria com Cândido Ferreira de Abreu, mais tarde prefeito de Curitiba. Poder-se-ia
antever que o jovem parnanguara seguiria a vocação política de seus maiores, ou
por atavismo, ou por influência da atmosfera polêmica que diariamente
respirava. Os Correia possuíam uma nobreza própria, uma fidalguia peculiar,
independente mesmo dos títulos nobiliárquicos. Cursou as primeiras letras em
Paranaguá mas fez seu Curso de Humanidades no Colégio Fraze, em Nova Friburgo,
Província do Rio de Janeiro. Espírito prático, investigador e arguto,
orientava-se em todas as questões com admirável firmeza, principalmente em
finanças e economia política. Concluiu o curso com alta distinção. Ao regressar
à terra natal, com 24 anos, iluminava-lhe o semblante um indisfarçável otimismo
diante do futuro. Aproveitando-lhe os talentos, a família entendeu premiá-lo
com estágio em Montevidéu e Buenos Aires, os grandes centros consumidores da
erva-mate brasileira. Alarga-se-lhe a visão comercial. Ali, fez sólidas
amizades, aperfeiçou-se no estudo mercantil. Ao voltar, poderia se considerar
um expert. Ao festejar 27 anos,
encanta-o sua bonita prima Maria José, a quem carinhosamente, chama de Coca. O casamento entre parentes
seguia o costume da família. Paranaguá assistiu, em traje de gala, a cerimônia
nupcial, em 1872, a 24 de dezembro. O novo lar se consolidaria em Antonina. O
jovem industrial organiza, em sociedade com o irmão Pedro de Alcântara, casa
comercial de rápido sucesso. E com David Antonio da Silva Carneiro instala seu
primeiro engenho de mate. O êxito desses empreendimentos lhe permite viajar aos
Estados Unidos, quatro anos depois, e exibir seus produtos na célebre exposição
americana. Experimenta, pela primeira vez, o gosto fascinante do sucesso. A
fortuna começava a bater-lhe à porta. Formou-se no litoral uma elite de
ervateiros. Da concentração em torno do mate surgia uma aristocracia regional
fortemente próspera. Quando o tráfego pela Estrada da Graciosa deslocou o eixo
econômico do Estado, Ildefonso mudou-se, com a família, para Curitiba, onde
poderia melhor trabalhar com perspectivas de expansão comercial e industrial.
Adquire, amplia e moderniza o Engenho Iguaçu, na Rua Comendador Araújo. Projeta
o Engenho Tibagi e o conclui em 1884, conferindo feição completamente nova à
fabricação da erva-mate. Ildefonso dava largueza ao seu espírito criativo e empreendedor.
O traço, porém, que lhe ressaltava a fisionomia
moral era seu radiante espírito de caridade, o lado afetivo da sua natureza,
imensamente sensível e piedosa, aberta a todas as emoções altruísticas das
almas de eleição. Os benefícios que espalhava não consistiam em algumas esmolas
com que, algumas vezes, costumam os argentários, fartos e felizes, satisfazer a
vaidade.Ele protegia eficazmente, sem alardes, nem ostentação, antes com uma
modéstia e discrição de quem cumpre o dever mais simples do mundo os que
recorriam ao seu valimento; amparava os aflitos, animava os laboriosos e
estimulava os moços de talento. Em suma, a aproximação dessa meiga, simpática e
nobre criatura, de uma doce sedução pessoal, tinha qualquer coisa de suave, de
consolador e de afago paternal.Corria o mês de julho de 1891.Um frio intenso
cortava as carnes. Sobre os campos, pelas manhãs claras e louras, estendia-se a
alvíssima toalha da geada. Na véspera de São João, Ildefonso
convida Leôncio Correia a dar um passeio à Roseira, mas este, por motivo de
trabalho, não pode aquiescer ao convite. Na tarde do dia seguinte, tarde
implacavelmente batida de um frio enregelador, o filantropo paranaense
regressava. Ao jantar, Leôncio lhe indaga das impressões trazidas da viagem.
Ele sacudiu melancolicamente a cabeça e não disse nenhuma palavra. Finda a
refeição, no escritório, ele confidencia ao primo: Você
acertou em não ter ido... Que miséria! Criancinhas roxas de frio, apenas com
uma leve camisa sobre a pele! E por alimento – pinhões, unicamente! Um
espetáculo de cortar o coração! Pesou, por instantes, no ambiente, um silêncio
terrível. E, rompendo-o, tornou, passando significativamente, os dedos pelos
cabelos: Vou estabelecer lá uma serraria, para dar trabalho e ganho àquela
pobre gente! E assim o fez. Ildefonso, além de haver conquistado a
condição de maior exportador de mate da província, negociava com gêneros de
consumo e com madeira de pinho, produzida pelas Serrarias São Sebastião,
situada nos campos da Roseira, então distrito de São José dos Pinhais; Seis de
Agosto, instalada nas matas do Guatupê, então distrito de Piraquara; e Volteio
no Miringuava. Pertencia-lhe também a Olaria Santo Inácio... O traço que
completa a fisionomia moral do Barão do Serro Azul é o seu espírito de caridade.
Alma generosa e grande, amando o bem por índole, praticando a virtude
naturalmente, sem esforço, sem contrariedades, como se fizesse isso parte dos
deveres de sua vida. Homem inteligente e culto, possuía uma preciosa biblioteca
formada de livros, na maioria clássicos; apreciava a arte, principalmente a
arquitetura e a escultura. E, no apogeu de sua prosperidade industrial, ele
solicita o máximo esmero dos engenheiros italianos Ângelo Vendramin e Batista
Casagrande na conclusão de seu palacete , à Rua do Serrito, atual Rua Carlos
Cavalcanti. Nele se viam todas as novidades do Velho Mundo; atualizando-se com
as modernas conquistas da técnica, mandou implantar uma linha telefônica entre
o palacete e seus engenhos. Não raro os meninos travessos perturbavam as comunicações,
danificando os fios com raias e atiradeiras. Ele podia se dar ao capricho do
luxo e da opulência, sem perder, contudo, o traço de humildade e humanismo que
o mantinham aproximado dos pobres. Honesto e progressista, como comerciante e
como homem público. Grande alma. Coração bondoso.Caráter nobre e puro. Homem
laborioso e probo. Espírito empreendedor e de iniciativa. Foi o maior e mais
abastado industrial, no seu tempo. Todas as iniciativas progressistas e
caridosas buscavam o seu apoio, que não recusava, sempre que se tratasse do bem
da província ou da semeadura do bem a favor do próximo. Tinha satisfação em ser
útil: a sua bondade fez com que se lhe desse o título póstumo de Pai dos Pobres. Foi fundador,
mentor e 1º Presidente do Clube Curitibano e da Associação Comercial do Paraná,
do Banco Mercantil e Industrial do Paraná. Como político, pertenceu ao Partido
Conservador, mas, sem possuir espírito partidário, pois sempre foi liberal e
patriota, procurando conciliar e contornar as situações difíceis, embora,
muitas vezes, prejudiciais aos seus negócios. Quando em 1880, Curitiba se
engalana para a visita do Imperador D. Pedro II e Dona Tereza Cristina, o nome
de Ildefonso figura no grupo de recepção. Sua mulher, Maria José, também é
destacada para as honras do salão, no aristocrático baile do Museu Provincial,
em louvor da imperial comitiva. Conta a tradição que, no Paço, o Imperador
deveria ser saudado pelo Dr. Tertuliano Teixeira de Freitas. Verificando D.
Pedro II que o orador dispunha de um calhamaço volumosíssimo, arrebatou-lhe,
cordialmente, das mãos, agradeceu-lhe sorrindo, escondeu cautelosamente as
laudas e acenou para o povo, dando por finda a cerimônia. O baile empolgou a
sociedade. E não passou despercebido ao monarca, aquele casal sóbrio e
simpático, ao ritmo de Strauss. D. Pedro I estabelecera, por decreto imperial,
a Ordem da Rosa, tendo em vista perpetuar a memória do seu consórcio com Dona
Amélia de Leuchtenber e Eischtaedt. Diz-se que, ao avistar a imperatriz, que
desembarcou com um vestido de gaze branca, salpicado de rosas entreabertas,
assaltou o espírito do monarca, a idéia de constituir mais essa Ordem,
destinada a premiar militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se
distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador, e por serviços
prestados ao Estado. A Ordem da Rosa foi para D. Pedro II a moeda de honra de
que mais se utilizou, premiando o professor, o homem de iniciativa na indústria
e na lavoura, e o senhor que alforriava escravos. Sintetizava Amor e Fidelidade. Dentro desse espírito e obediente aos
interesses da Coroa, D. Pedro II, ao regressar ao Rio, por decreto de
31.08.1880, agracia vários cidadãos do Paraná,.pelos relevantes serviços
prestados ao Estado. Ildefonso Pereira Correia era um deles. Passaria a usar o
título de Comendador. Em 1884, quando a Princesa Isabel e o Conde D´Eu vieram
ao Paraná, coube ao Comendador oferecer seu palacete para residência dos
príncipes. Quando a campanha abolicionista inflama a Província do Paraná, o
Comendador Ildefonso Pereira Correia, toma-se de justo entusiasmo e declara, em
um discurso, comprometer-se na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de
Curitiba, a promover a emancipação dos escravos do Município, a fim de que, na
futura sessão magna dessa Associação, se pudesse afirmar que a capital da
Província não tinha mais escravos. Ele passou a comandar a campanha de
arrecadação de fundos, que tantos benefícios prestou à causa da abolição,
indiferente à crise do pinho no mercado internacional, que o obriga a liquidar sua
empresa de comercialização de madeiras. A campanha rendeu 408$000. Ildefonso
contribuiu com 150$000. Ildefonso Pereira Correia foi o 25º Presidente da
província do Paraná, ocupando o posto de 30.06.1888 a 04.08.1888. E por todos
os serviços prestados à Coroa, a 08.08.1888, ele é agraciado com o título de
Barão do Serro Azul. Onde meses depois proclama-se a República. Leôncio Correia
nos conta: Durante os últimos anos da monarquia, teve
sempre a seu lado, como amigo, um correligionário., Com ele entrou na
República. A ele colmava de gentilezas e cobria de obséquios, mas deixou de
corresponder a um pedido – e a derrocada afetiva foi estrondosa e cruciante!O
correligionário e o amigo, por escrito em jornais e arengas em todos os
lugares, movia-lhe uma insidiosa campanha de difamação. Dias passados – e bem
poucos - o agressor insólito adoece. À hora do almoço mandou-me que o
visitasse, mas em seu nome. Ao jantar, comuniquei que o visitado se encontrava
em situação duplamente deplorável: gravemente enfermo e sem recursos até mesmo
para aquisição de medicamentos. Finda a refeição, entregou-me com uma
naturalidade, uma despreocupação, uma modéstia encantadora, duzentos mil réis,
para que eu, discretamente, sem ninguém o percebesse, deixasse sob o
travesseiro do doente – recomendou-me.Uma semana decorrida, e este, após
dolorosa agonia, deixava a família na mais negra miséria. E ele me manda,
imediatamente, dar pêsames à família, com a incumbência, também, de obter
licença para fazer as despesas do enterro! Ildefonso mantinha a
simplicidade de uma vida metódica. Adorava passear pelos jardins da casa,
conduzindo pelas mãos os três filhos: Siroba, Colaca e Ildefonso, como a
despertar-lhes o gosto pela natureza e pelo milagre da criação. O jardim era a
sua vida. As camélias brancas, em especial. De porte mediano, magro, barba
sempre bem tratada, voz clara, afetado por ligeira surdez, caracterizava-o
singular aparência varonil. Detinha costumes austeros. Vestia-se com medida
discrição. A baronesa era expansiva,
espírito alegre e aberto. Muito espirituosa: amiga da pobreza. Dedicava-se às
campanhas filantrópicas e detestava as recepções de gala. Distribuía, no Natal,
presentes a mancheias. Seu jeito descontraído e aberto contrastava, em parte,
com o ar senhorial do Barão. Mas, ainda, assim, o casal se completava.
Ildefonso, obedecendo tradição familiar, pois a primeira Loja Maçônica do
Paraná, criada em Paranaguá, tivera seu pai entre os fundadores, filiou-se à
maçonaria. Não se tem data exata de sua iniciação, pois a documentação
desapareceu no incêndio que devorou, em 20.01.1922, o Templo Maçônico da Loja
Perseverança. Sua mulher, Maria José, chegou a presidir a Loja Filhos de
Acácia, organização feminina paralela, coadjuvada por Dona Josefina Rocha, nas
campanhas filantrópicas, em que se notabilizou por suas virtudes peregrinas. No
período revolucionário, em que se digladiaram os maragatos e os pica-paus, ou
seja, os federalistas e os florianistas, coube ao Barão do Serro Azul papel de
grande relevo. Providenciou o policiamento da cidade, a fim de evitar os
inconvenientes da completa ausência das autoridades, pois Vicente Machado
transferira a capital para Castro e se retirara para São Paulo. Coube-lhe o
arrebanhamento do Empréstimo de Guerra lançado pelos revolucionários vitoriosos.
O imposto de guerra lhe trouxe muitas animosidades. Mas agiu com eqüidade nas
taxações, entregando o lançamento do empréstimo aos negociantes mais
conceituados. Quando lhe aconselham a fugir, no momento em que o governo legal
é restaurado e as tropas de Floriano se acham a caminho, ele se escusa: Foi para garantir a propriedade dos nossos
concidadãos e a honra da família paranaense, que tomei a única atitude que as
circunstâncias aconselhavam. Não sou, nem fui um revolucionário, mas apenas um
amigo da minha terra. Nunca duvidei da vitória do Marechal Floriano, homem
refletido e calmo, que sabe coordenar energias e despertar dedicações. Quem vem
comandando a divisão legalista? Não é o General Ewerton Quadros, um grande
espírita/ E o Espiritismo não é a religião do amor? Estou ansioso por um
tribunal, perante o qual possa, com provas, afirmar a minha inocência e
explicar a minha ação. Quando chegou a Curitiba o General Quadros,
muitos foram assistir a sua entrada triunfal. O Barão iluminou o palácio. Mas,
alguns amigos disseram-lhe ser perigoso, porque havia animosidade dos
florianistas contra ele. O bondoso homem ficou admiradíssimo com a notícia.
Estava convencido de que o General viria a sua casa agradecer-lhe por ter salvo
a cidade dos horrores do saque! Cresciam os rumores da prisão de Serro Azul.
Amigos seus aconselharam-no a fugir. Em vão. Nada tinha a temer, respondia.
Entretanto, para surpresa sua, recebeu ordens de permanecer em casa, em cárcere
privado. Escreve então ao Coronel Pires Ferreira, considerando-se prisioneiro.
Isto a 5 de maio de 1894. Os amigos insistiam no propósito de salvá-lo, certos
de que ele seria sacrificado, mas respondia a todos invariavelmente: Se fugir, supor-me-ão culpado, e como não quero
que me suponham culpado, não fujo! Apesar disso, preparam-lhe tudo.
Até o carro para sair pela Graciosa está pronto no dia marcado. Supuseram
dobrar-lhe a vontade. Sem êxito. A 8 de maio de 1894, escreve ao irmão, o
Conselheiro Manoel Francisco Correia: Meu
irmão.Vítima das intrigas e das calúnias dos invejosos, estou, desde ontem ao
meio-dia, retido em minha casa, à espera da organização de um tribunal ou
comissão para julgar meu procedimento desde meados de janeiro. As acusações que
me fazem são falsas ou sem fundamento. Tenho consciência de que tudo quanto
pratiquei, logo que o nosso Estado foi invadido pelas forças revolucionárias,
somente obedeceu aos mais nobres e puros sentimentos.Não quis aceitar conselhos
amistosos para fugir para o Rio de Prata logo que as forças legais expulsaram
as revolucionárias. A minha fuga me tiraria ocasião de justificar-me, daria
razão às calúnias e seria a confissão de que eu não confiava na imparcialidade
dos juízes legais. Nem criminoso, nem revolucionário sou.Os tempos são de
provações, e eu a elas me subordino pacientemente. Quase
não posso escrever, pelo que peço mande esta ao Dr. Ubaldino.Minha mulher está
muito pesada. Espero mais um herdeiro ou herdeira no próximo mês.Saudades a
todos da família. Seu irmão e amigo Serro Azul. Dia 9, Serro Azul
recebeu nova intimação. Deveria recolher-se ao quartel da 1ª. Divisão, à Rua
Pedro Ivo. Aí se revelou o amor do povo por aquele homem. Apesar dos dias de
insegurança que se respirava, ele recebia a visita diária de mais de 300
pessoas, de todas as classes. Por medida de segurança, pois corriam rumores de
que seus amigos tentariam raptá-lo, desde que ele não se propunha a fugir, o
General Ewerton Quadros, comandante das forças em operações, tratou de
transferi-lo para o Quartel de Infantaria da Trajano Reis, tornando-o
incomunicável. Na noite de 20.05.1894, Ildefonso e seus companheiros
Presciliano Correia, José Augusto Ferreira de Moura, José Schleder, Balbino
Carneiro de Mendonça são acordados com ordens de embarque para o Rio. A escolta
subiu a pé a atual Trajano Reis. Os prisioneiros se comunicavam silentes, pela
expressão dos olhos, com certo ar de espanto. Tinha a marcha um toque sinistro,
misturado ao barulho das espadas resvalando na calçada, em contraste com o
silêncio tumular da noite. Caía uma chuva fina, hibernal. Mesmo sob a agrura da
humilhação e do vexame, Serro Azul parece tranqüilo, escudo e rocha de um grupo
de homens desorientados e perplexos. E a comitiva, acrescida de Mattos Guedes,
prisioneiro que estava na Praça Tiradentes, chega à estação. A locomotiva, a
puxar três vagões soturnos, rompeu, sem tardança, entre apitos e ruídos
cortantes. A convicção íntima da inocência infundia-lhes coragem. Poderiam
enfrentar, sem receio, os juízes e as leis da República. Schleder apalpava nos
bolsos copiosa documentação: as provas da sua inocência. Esse convencimento
renova-lhes a fortaleza do espírito e a confiança no amanhecer de um novo
dia... O que feria mais profundamente, naquela hora, a Ildefonso Correia, era a
lembrança da sua mulher, grávida e desesperada, longe dos seus afetos e
desvelos, indefesa e frágil na sua desdita. (A criança nasceu morta). É
evidente que a parada à margem da grota próximo ao Km 65 se deu por engano do
comando da escolta. Manda a razão que se aceite haver, a ordem dada, sido para
que se fuzilassem os presos junto a um dos muitos precipícios da serra, e de
forma que os corpos desaparecessem para sempre, no abismo. Conta-se que, a
despeito do luar, havia nevoeiro, e este, por certo, cobria os vales, como em
geral ocorre naquelas paragens. Disso resultou o engano, pois o local em que a
ordem foi cumprida era dos mais impróprios, tanto assim que os cadáveres foram
avistados da linha férrea, no dia seguinte. Quando o trem parou, em súplicas e
prantos, resistindo, foram, um a um, evacuados a coices de fuzil. Em seguida, a
descarga mortífera e o eco se repetindo pelas quebradas da serra. Serro Azul,
patético e confuso, protestava em vão. Prometeram em recurso extremo, repartir
sua fortuna com os oficiais da escolta, se os poupassem. Inutilmente. Sofreu o
impacto do primeiro tiro na perna. Sangrando em abundância, pôs-se de joelhos
pretendendo orar. Balbuciou, débil e trêmula, a derradeira prece: Meus filhos! E caiu, abismo abaixo,
atingido mortalmente na testa. Aos gemidos dos moribundos se acrescentou o coro
singular das aves agourentas. Escandalizada, a natureza pôs-se a chorar na
lágrima do orvalho para esconder o sangue da perfídia. Noite sem estrelas, de
luto celestial.Nas grotas e nos cumes há um silêncio de morte.Emanações leves
de flores e visões de camélias brancas. Perfume de imortalidade.Os corpos foram
resgatados somente a 25 de maio, quando lhes foi dada sepultura.Durante 40
anos, seu nome foi proibido de pronunciar no Estado do Paraná. O resgate de sua
memória foi realizado a pouco e pouco, através de várias publicações. Mais
recentemente, em 2003, foi lançado o filme O preço da paz, com o objetivo de colocar em seu devido
lugar a memória honrosa de Ildefonso Pereira Correia.O filme ganhou Kikitos de
Ouro de Melhor Edição e Melhor Direção de Arte e o Prêmio do Júri Popular, no
Festival de Gramado. Em Curitiba, na Avenida Visconde de Guarapuava, uma Casa
Espírita ostenta o seu nome: Centro Espírita Ildefonso Correia. Bibliografia:
01.OITIBERÊ.Paranaguá,v.II,anoII,nº9,jan.1920.
02.REVISTAPANORAMA.nº44,p.50,51,25,jan.1956.
03.NICOLAS,Maria.Vultosparanaenses.1958.v.3.
04.LEÃO,ErmelinoAgostinhode.DicionárioHistóricoeGeográficodoParaná.v.1. 05.BALÃOJUNIOR,Jaime.ImpressõesLiterárias.1938.
06.COSTA,OdahReginaGuimarães.AçãoempresarialdoBarãodoSerroAzul.1981. 7.PILOTO,Valfrido.Paranistas.1938.Atragédiadokm.65.- 8.VARGAS,Túlio.AúltimaviagemdoBarãodoSerroAzul.1973 - 09.CORREIA, Leôncio. Barão do Serro Azul. 1973. texto na íntegra do CENTRO ESPIRITA ILDEFONO PEREIRA CORREIA
02.REVISTAPANORAMA.nº44,p.50,51,25,jan.1956.
03.NICOLAS,Maria.Vultosparanaenses.1958.v.3.
04.LEÃO,ErmelinoAgostinhode.DicionárioHistóricoeGeográficodoParaná.v.1. 05.BALÃOJUNIOR,Jaime.ImpressõesLiterárias.1938.
06.COSTA,OdahReginaGuimarães.AçãoempresarialdoBarãodoSerroAzul.1981. 7.PILOTO,Valfrido.Paranistas.1938.Atragédiadokm.65.- 8.VARGAS,Túlio.AúltimaviagemdoBarãodoSerroAzul.1973 - 09.CORREIA, Leôncio. Barão do Serro Azul. 1973. texto na íntegra do CENTRO ESPIRITA ILDEFONO PEREIRA CORREIA
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