Médico, homem de empresa,
político e administrador, Caetano Munhoz da Rocha foi uma das maiores figuras
do Paraná durante a primeira República e
um dos grandes vultos da história paranaense. Eleito deputado estadual em sete legislaturas
sucessivas, ocupou também a prefeitura de Paranaguá por dois períodos. Exerceu
a presidência do Legislativo estadual. Foi Secretário de Estado de várias
pastas, Vice-Presidente do Estado e seu Presidente —cargo hoje correspondente
ao de Governador—,reeleito para o mandato seguinte, governando o Paraná durante
oito anos ininterruptos e, afinal, Senador da República. Após a Revolução de
1930, foi pela última vez deputado estadual. Durante o Estado Novo, exerceu a
presidência do Conselho Administrativo do Estado, órgão de consultada
Interventoria Federal do Paraná. Herdeiro desse
nome ilustre, um de seus filhos, Bento Munhoz da Rocha Neto, também se
destacou na vida pública, como deputado federal, Governador e Ministro de
Estado.
Sua vida
Caetano Munhoz da Rocha
nasceu na cidade de Antonina, no dia 14 de maio de 1879. Era filho de Bento
Munhoz da Rocha e D.Maria Leocádia, que casou em segundas núpcias com Manoel
Bonifácio Carneiro. Iniciou seus estudos em Curitiba, nos colégios "Parthenon
Paranaense e ArturLoyola",
matriculando-se depois no "Colégio SãoLuiz", em Itu-SP, onde fez o
curso de Humanidades, prestando exames preparatórios no curso anexo à Faculdade
de Direito de São Paulo. Em 1896 matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro, pela qual se diplomou em 1902,com a idade de 23anos. Fixando
residência na cidade de Paranaguá, a 14 de fevereiro do ano seguinte casou com
D.Olga, filha de Manoel Francisco de Souzae D. Francisca Carneiro de Souza.
Desse matrimônio nasceram dez filhos, o segundo dos quais, em homenagem ao pai,
seria Bento Munhoz da Rocha Neto, seu ilustre herdeiro político. Até o ano de
1905, Caetano Munhoz da Rocha clinicou em Paranaguá, onde serviu também como
médico da Santa Casa de Misericórdia e, interinamente, como Inspetor de Saúde
dos portos de Paranaguá e Antonina. Nesse ano, fundou com seu irmão, lldefonso,
afirma comercial Munhoz da Rocha & Irmãos, da qual é sucessora, ainda hoje,
a empresa Rocha & Cia. Caetano Munhoz da Rocha ingressou na política levado
pelo seu padastro Coronel Manuel Bonifácio Carneiro, com a idade de 25 anos,
quando foi eleito pela primeira vez deputado ao Legislativo Estadual para o
biênio 1904 -1905, onde participou da Comissão de Instrução Pública, juntamente
com Romário Martins e Vieira de Alencar. Nesse ano, Vicente Machado estava
assumindo o Governo do Estado, para o qual fora eleito (1904-1908), como grande
lider político de um período tempestuoso davida paranaense. Ele, que antes já
fora companheiro de chapa de Xavier da Silva, e assumira o governo durante a
Revolução Federalista, que convulsionou o Estado, ia ter pela frente a sentença
do Supremo Tribunal Federal, desfechada contra o Paraná, na questão de limites
com Santa Catarina. Nesse momento, os paranaenses se levantariam num grande
movimento de opinião para impedir a amputação de seu território. Reeleito
sucessivamente para as legislaturas seguintes dos biênios de 1906-1907,
1908-1909, 1910-1911, 1912-1913, 1914-1915, 1916-1917, Caetano Munhoz da Rocha
começava a se impor entre os políticos de seu tempo. Além de participar da
Comissão de Higiene, onde deixou importantes pareceres, foi vice-presidentedo
Legislativo, em 1909, e seu presidente, em 1917, eleito pela unanimidade de
seus pares. No ano de 1907 uma violenta crise política domina o Paraná, em
conseqüência do falecimento de Vicente Machado, o corrido antes do término do
mandato governamental. Diante de divergências entre o Poder Legislativo e o seu
substituto legal, este foi levado a deixar o cargo. A crise só foi superada em
1908, com a formação da Coligação, que amainou os ânimo se elegeu Xavier da
Silva— sempre equidistante das facções em luta para o Governo do Estado, por
ele exercido pela terceira vez. Nesse ano, Caetano Munhoz da Rocha já era o homem
de maior prestígio de Paranaguá,
asegunda cidade do Estado, quando foi eleito seu Prefeito para o quadriênio
1908-1912, e reeleito para o período seguinte, de 1912-1916. Renunciou, porém,
em 1915, para integrar a chapa Afonso
Alves de Camargo-Munhoz da Rocha à sucessão estadual, quando se transferiu para
Curitiba. Nos sete anos em que foi Prefeito de Paranaguá, a cidade, no dizer de
Romário Martins, "lhe deve todo o seu progresso urbanístico". Nessa
ocasião, revelou-se o grande administrador que o Estado inteiro iria conhecer
depois. Deu nova organização à contabilidade municipal, liquidando a dívida
flutuante que encontrou ao assumir a Prefeitura, e mantendo em dia todos os
pagamentos. Fez drenare aterrar grande parte da zona baixa da cidade; executou o
serviço de abastecimento de água encanada, captada na Serra do Mar e construiu
a rede de esgotos; abriu novas ruas, alargando outras, e ajardinando praças
;pavimentou a paralelepípedos os
logradouros centrais e a avenida que vai
ter ao Porto, traçada ao tempo de sua administração; modernizou os dois
mercados, o de peixe e o geral, saneando a praça fronteira com instalações
adequadas. Além disso, fez aquisição do Paço Municipal, um dos melhores prédios
de sua época no Paraná, e promoveu a instalação de telefones na cidade. Como
Provedor da Santa Casade Misericórdia, introduziu nela grandes melhoramentos,
assim como no prédio do Colégio São José . Eleito Vice-Presidentedo Estado,
em1916, foi um colaborador inestimável no Governo de Afonso Alves de Camargo, ocupando
as pastas da Fazenda e a de Agricultura e Obras Públicas. A exemplo do que
fizeraem Paranaguá, foi o introdutor da
reforma da contabilidade do Tesouro, segundo plano de sua própria autoria, a
respeito do qual publicou obra em dois volumes, considerada de grande mérito
pelos especialistas da época. Eleito com grande maioria de votos, não obstante
isso o Governo de Afonso Camargo foi injustamente combatido logo no início por assinar o acordo que pôs fim a
questão de limites com Santa Catarina, causa da luta armada no Contestado, que
afinal terminou em outubro de 1916, com a intervenção do Presidente Wenceslau
Braz, e a perda definitiva do Paraná desse território. A verdade é que, com
três acórdãos contrários do Supremo Tribunal, a perda do Paraná teria sido
maior. Caetano Munhoz da Rocha sucedeu a Afonso Camargo no Governo do Estado,
assumindo o quadriênio seguinte de 1924-1928. Seu primeiro período foi de
reorganização administrativa. O segundo, de realizações. Com menos de uma no de
Governo, sofreu a perda da esposa, assim como antes de três filhos maiores
desse matrimônio.Buscou conforto, num segundo casamento com D. Domitilia, filha
do casal Alfredo Xavier de Almeida e D.Maria Luiza Grein de Almeida. Enviuvando
novamente, casou pela terceira vez com D.Sylvia, hoje com 79 anos, filha de
Manoel Antônio da Cunha Braga e de D.Vitoria Lacerda Braga, com a qual teve
numerosa prole. Se a situação era propícia ao assumir o Governo, pelo apoio da
opinião quase unânime do Estado, era também administrativamente difícil, pelos
pesados encargos do erário, como reflexo dos efeitos negativos da Segunda Guerra
Mundial. Mas Munhoz da Rocha soube enfrentá-la, mediante rigoroso saneamento
das finanças públicas. Ao fim do primeiro ano de gestão, logrou resgatar o
empréstimo do Banco do Estado e fechar o exercício financeiro com vultoso saldo positivo. Concentrou suas
atenções prioritariamente sobre dois setores: ainstrução pública e o saneamento
e a higiene urbana. Pediu a SãoPaulo um técnico para reforma do ensino, o professor
César Prieto Martinez, que traçou um programa ousado, executado com amplo
sucesso. Os edifícios dosInstitutos de Educação de Curitiba, Paranaguá e
PontaGrossa são de sua época. O projeto de remodelação e ampliação da rede de
água e esgotos da Capital foi confiado a um dosmaiores especialistas
brasileiros, o engenheiro Saturnino Brito. Segundo Romário Martins, o Paraná
foi um dos primeiros Estados, senão o
primeiro, no Governo Munhoz da Rocha, a enfrentar o problema da infância e da velhice desamparadas. Criou o Juizado de
Menores, construiu o Asilo de Velhos, o Orfanato, o Sanatório da Lapa para
tuberculosos e o Leprosário São Roque, em Piraquara. Organizou a Caixa de
Seguros dos Funcionários Públicos e da Polícia Militar. Voltou-se para o aparelhamento
do Porto de Paranaguá, que, em 1924, meados de seus oito anos de mandato,
inaugurariao fluxo normal dos embarques de café do Norte Pioneiro, comum a
exportação de 29.521 sacas, contra apenas 215 sacas no ano anterior e apenas 5,
em 1922. Nesse mesmo ano de 1924, Lord Lovat, integrante de uma missão inglesa
no Brasil, e que havia promovido colonização agrícola na Austrália e África,
visita o Norte do Paraná. Em 1927, o Governo do Estado firmou com ele o
contrato de concessão de 515 mil alqueires para um vasto projeto de colonização. É fundada a Paraná Plantations que, em
consórcio com a Companhia de Terras Norte do Paraná e a Companhia Ferroviária
São Paulo-Paraná, dá início à colonização do setentrião em moldes modernos.
Munhoz da Rocha foi um bravo defensor da cafeicultura paranaense, que mal se
iniciava. Em 1927, foi firmado o segundo convênio cafeeiro, entre os governos
de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo, sob o patrocínio do
Governo Federal, visando uma velada limitação do plantio. Instado a
subscrevê-lo, sem dele ter participado, ou não sendo sequer consultado,
recusousua assinatura, por entendê-lo contrário aos interesses do Paraná. Por
esse gesto, o então presidente da Associação Comercial, Coronel David Carneiro,
que liderava a oposição política no Estado, não hesitou em expressar-lhe
publicamente sua solidariedade, ao mostrar-se "digno da posição que ocupa
e merecedor de um apoio que, neste momento, todos os paranaenses
subscreverão". Homem leal, estadualmente integrado na estrutura política
dominante, que encarnava com ardor o princípio federativo da autonomia dos Estados, Munhoz da Rocha nem
por isso era menos penetrado de espírito nacional, entendendo o Brasil comum a
sociedade integrada. Sonhava com um Brasil que "somente unido e forte
realizará esses destinos", segundo suas próprias palavras na oração que,
em 1922, pronunciou no Teatro Guaíra, em comemoração ao Centenário da
Independência. Nessa ocasião dirigiu mensagem ao Legislativo Estadual, propondo
a extinção dos símbolos e dos hinos estaduais, como exemplo de civismo às
demais unidades da Federação, "para só predominar o sagrado símbolo da
Pátria, uma só bandeira, um só escudo e
um único hino". Ao deixar o
Governo, em 1928, foi eleito Senador da República. Desde 1926,o Paraná.
conquistara e vinha mantendo o lugar nas exportações brasileiras. Caetano
Munhoz da Rocha foi um dos poucos a sobreviver politicamente à Revolução de
1930, quando o presidente Getúlio Vargas combateu as antigas elites políticas
estaduais. Na legislatura de 1935-36, foi eleito deputado estadual, o que se
dava pela oitava vez, fazendo parte no Legislativo da Comissão Permanente de
Finanças e Orçamento. Em 1939, durante a Interventoria de Manoel Ribas,
presidiu o Conselho Administrativo do Estado, órgão de consulta do Governo.
Faleceu a 23 de abril de 1944, aos 65 anos de idade, cercado do respeito e da
admiração de todos os paranaenses, que lhe tributaram as mais significativas
homenagens.
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